segunda-feira, 10 de maio de 2010

“ÍNDIO QUER APITO, SE NÃO O PAU VAI COMER!”

Não quero aqui comentar nada sobre a tão falada demarcação da reserva Raposa Serra do Sol. Disso já se incumbem os noticiários e o James Cameron que, diga-se de passagem, foi “pego” de garoto propaganda, sem entender nada do que estava em jogo. Queria só divulgar seu “Avatar” que fala da mesma coisa: nossa ferocidade para destruir os recursos naturais de nossa mãe terra.

Na verdade, quero falar sobre a similaridade dos seres azuis do filme e nossos “peles vermelhas”. E é uma coisa muito simples: até quando vai durar a imagem romântica do “bom selvagem” criada no século XVIII?

Observaram a foto lá em cima? Leia a frase que a acompanha: Já pedi aos meus guerreiros para prepararem a guerra. Não vamos deixar essa barragem ser construída. Vamos matar todos os brancos que construírem essa barragem. (Cacique Raoni)

Pra quem ainda é novo, não lembra muito bem desse índio velhaco que até amigo do Sting já foi. De repente, ele surge novamente no panorama nacional através das páginas da Veja dessa semana.

Acaso na História do Brasil mão existe. Por acaso na História do Brasil, alguém já viu alguma revolta de índios? Dá para lembrar de muita coisa, inclusive do ataque de facão que um certo índio desferiu no primeiro engenheiro que foi explicar aos silvícolas a importância da tal barragem.

Mas a questão se aprofunda exatamente aí. Assim como em Avatar, será possível os índios brasileiros fazerem alguma coisa contra algum branco? No período colonial, eles pouco puderam fazer para impedir a invasão portuguesa em suas terras. Hoje, com armas automáticas, tanques, fazendeiros com instinto assassino e corporações que nunca deixam seus interesses serem prejudicados, será que eles terão alguma chance? Até onde sei, não temos uma “árvore da vida” ou “dos ancestrais” para curar ou salvar os guerreiros feridos.

Ainda temos uma visão tão idílica e romântica dos nossos índios, que esquecemos que antes de tudo, eles são pessoas comuns. Com hábitos apenas diferentes dos nossos. Pergunte para um militar que trabalha na fronteira do país. Ele acha o índio um cúmplice dos traficantes de drogas. Dizemos que eles fazem isso, porque lhes foram tirados muitos direitos pertinentes à cidadania. E se em algum momento um índio trabalha num “serviço de branco”, agimos como os estadunidenses, achamos que eles estão nos “roubando” postos de trabalho.

Será que todos querem mesmo aquela representação que as escolas infantis fazem? Índio com tanguinha, cocar e arco e flecha? Para que serve o dia do índio? Por que o branco “celebra” o dia do índio? Alguém sabe qual é o dia do índio?

Os primeiros habitantes dessa terra ainda se vêem, eles mesmos, confusos em relação ao seu papel. Querem lutar por suas terras, ou o pouco que restou delas. Mas e depois? O que irão fazer? Continuarão a pescar e caçar com arco e flecha? Viverão em suas aldeias e ocas, alheios ao mundo que os cerca? Pensando que nunca mais invadirão suas terras?

Avatar mostrou que isso não existe. Sempre acharemos algum jeito de, com força bruta ou com enganação – que é a essência do uso de um avatar no filme – quando a “civilização” não tiver mais o que considera “necessário” para sobreviver, ela vai matar e destruir os mais fracos, ou menos capazes.

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