Todo mundo que costuma vir nesse lugar chamado blog, já tá cansado de saber que eu sou professor. Faço sempre questão de repetir e dizer isso para as pessoas, para ninguém pensar que eu sou só mais um adolescente frustrado ou sem nada para fazer, que decidiu fazer um blog e colocar toda a bíle e todo suco gástrico do seu corpo para fora, quando tem que falar mal de alguma coisa.
Essa não é uma profissão que você escolhe da noite para o dia. Não é uma profissão que você escolhe porque não conseguiu escolher nenhuma outra. É preciso vocação. É preciso coragem. É preciso dedicação. É preciso paciência e uma porrada de outras coisas. Pois, depois que se entra dentro de uma sala de aula, tudo pode acontecer. Tudo mesmo.
Já encarei situações que muitas pessoas não imaginariam que isso ocorreu dentro de uma sala de aula. Entre briga de alunos, briga de alunas, pais rebocando seu filhos por causa do boletim, pais se acabando em lágrimas pois não sabem o que fazer com os filhos. A lista é comprida.
Mas o motivo deste texto é levantar mais uma vez a minha voz contra uma coisa que estou percebendo já a algumas semanas. De repente, de maneira sorrateira, a revista VEJA, anda inserindo alguns artigos em seu conteúdo, versando sobre o panorama da educação no Brasil. Por si só, esse já é um grande serviço jornalístico. No entanto, o que é visivelmente nítido, é uma série de ataques contra a profissão de professor. Constantemente, percebo que os jornalistas ou outros especialistas que se põem a escrever sobre educação e o cotidiano das escolas, atacam livremente o que ELES consideram ERRADO no ofício de professor.
É um tal de falar mal de professores que “perdem tempo” expondo suas visões ideológicas; apoiando iniciativas que pretendem “cronometrar” as atividades de um professor dentro de sua sala de aula; questionar o fato de professores não oferecerem estímulos aos seus alunos para tornar a aula interessante. E por aí vai.
Não sei de ninguém, sei o que eu passo dentro de uma sala de aula. Sei das pressões dos meus alunos e dos meus patrões em torno das questões que lhes interessam. Aos alunos, como para qualquer adolescente médio, interessa menos uma aula onde o conteúdo venha formatado de uma maneira que ele não quer saber, do que dialogar e questionar tudo aquilo que lhe está sendo apresentado, ele quer que a aula, seja como for, seja interessante para ele. Aos patrões, lhes interessa manter o padrão de ensino e disciplina que marcam a história da instituição, e que os professores não faltem nem cheguem atrasados.
De resto, os conteúdos aprendidos são outros 500. Sim, é outra história! Porque só o aluno sabe o que ele vai fazer com aquele conteúdo. Se ele vai saber calcular a área de um quadrado, se ele sabe qual é o agente da voz passiva, se o relevo do continente americano é assim ou assado, ou se Calabar foi ou não traidor dos brasileiros. Isso são coisas que não competem aos professores, fazer com que o aluno tenha a mesma paixão que ele por tais assuntos ou matérias.
Cada vez mais, recai sobre a escola e sobre os professores, a tarefa de ensinar ao aluno a leitura que ele vai fazer do mundo, o que ele vai fazer com essa leitura, como ele vai fazer essa leitura. E mais, exigem da escola que os alunos sejam educados, que tenham noções de civilidade, de ética (apesar da revista achar que não se deve ensinar ética nas escolas). A lista de exigências sobre uma instituição de ensino é longa. Muitas vezes mais obrigações do que direitos, como o pagamento em dia das mensalidades por parte dos pais.
Cobrar como deve ser a postura de um professor dentro de sala é mole. Dizer, baseado em estatísticas, o que “pode e deve” ser feito, também é fácil. Acredito que os jornalistas estão se voltando cada vez mais contra o magistério, em virtude do rancor que ficou depois que qualquer um pode exercer sua profissão sem um diploma. Quem sabe, munidos de outros dados e conhecimentos, que não os que são ensinados para a formação de um professor, eles possam dar aulas melhores.
Fica a aposta.
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