quarta-feira, 29 de abril de 2009

Bruno Daesse entrevista Chico alencar


Confesso: depois de mais de uma hora e meia de conversa franca, quase sem compromisso, descontraída e muito instrutiva, fica a pergunta: porque muitos candidatos não são como o Chico Alencar? Antes que as pedras voem, deixa-me explicar. Acho que já deixei claro que não estou aqui para defender ninguém, nem puxar o saco. Mas quando a hipocrisia, a demagogia e o “bom-mocismo”, característicos de políticos em época de eleição, não ficam latentes – ou pelo menos este colunista não percebe – é muito bom conversar com esses caras.
Chico Alencar recebeu-me com mais outros sete jornalistas, para o que sua assessoria chamou de “entrevista coletiva com as mídias alternativas, sindicais, nanicas, sites e blogs”. Ora bolas, “mídias nanicas”?! Quem quisesse poderia até ficar chateado, mas não deu. Principalmente porque nesta terça(09/09), Chico acabara de ter duas horas de sabatina com o pessoal do jornal O Globo. E mesmo assim nos recebeu muito bem. Eu sei, eu sei, isso faz parte da política, mas e daí? E se ele, por causa do compromisso com o Globo, tivesse me dispensado? Eu ficaria na mesma situação que o Sr. Eduardo Paes me deixou: na mão, sem a entrevista que prometi para o Blog.
Mas vamos deixar de papo e vamos para entrevista.

BRUNO DAESSE - Você acha que existe um certo conservadorismo do eleitorado carioca, em relação aos partidos de esquerda?

CHICO ALENCAR – Veja você, hoje em dia, por causa das pessoas em torno do presidente Lula, o Paulo Maluf chegou a dizer que se considera comunista (risos). Em virtude disso, digo que há algo errado com a esquerda no Brasil. Na verdade, há “esquerdas”. O Rio de Janeiro é reflexo desse processo iniciado com a eleição do Lula em 2002, em que fez diversas alianças de centro-direita, com empresários e banqueiros. A Sra. Jandira Feghali levanta agora, a questão do “voto útil”. Mas voto útil contra quem? Contra seus aliados? Ela tem que conversar com o Eduardo Paes do PMDB, aliado do PC do B no Governo Federal. Tem que conversar com o PRB, também sócio do Gov. Federal, do vice presidente e do Sen. Crivella, que o próprio Lula chama de amigo.

BD – E qual seria sua posição já que seu partido, o PSOL é opositor do Governo Lula, num momento em que se prega a união de Prefeitura, Estado e Governo Federal?

CA – Em primeiro lugar, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, é um cargo institucional da República Federativa do Brasil. Não é um quartel onde o coronel manda no tenente e o tenente manda no cabo. O presidente não manda no governador, que não manda no prefeito. Veja minha oposição como uma vantagem, porque assim se tem uma relação aberta sem troca de favores e acertos políticos. Coloca-se o interesse público em 1º. Lugar.
Mesmo sendo de um partido de oposição. Não faço oposição como DEM e PSDB fazem, de forma ultra conservadora e à direita. Isto vale para o Governador Cabral, quanto para o presidente, que quero que sinta saudades de uma política que existia no PT “pré-delubiano”. Sem contar que tudo isso vai ser mais barato aos cofres públicos.

BD – O Sr. Fala em “racionalizar” a máquina administrativa. De que forma pretende agir diferenciadamente?

CA – Farei uma prefeitura de “Reencantamento” da cidadania e da mobilização popular (Chico usa várias vezes esse termo). Menos preocupado com a institucionalidade, com os dutos jurídicos. Vamos nos preocupar em chamar a população para os “Conselhos Populares” nos bairros, através das associações de moradores, para elaborar o plano diretor da cidade, que já caducou desde 2002. Para junto, da população, culminar essas diversas ações para o “Congresso da cidade”.

BD – Qual a sua opinião sobre o voto obrigatório?

CA – Primeiro de tudo, o voto voluntário precisa ser discutido no âmbito da reforma política. Nosso atual sistema eleitoral impede que as maiorias sociais se tornem maiorias políticas. No entanto, a soberania popular pode pregar sustos àqueles que acham que, por possuírem o poder público e econômico, e se associam às grandes mídias aos outros grandes grupos, achando que podem garantir uma polarização de interesses do sistema.
Já fui a favor do voto voluntário, mas certa vez, conversando com meu saudoso Saturnino Braga, ele me dizia que o voto não é só um direito, também é um dever. Porque o sujeito também está na vida social e deve participar. Será que quem defende o voto voluntário está consciente de que não poderá reclamar da lâmpada que está faltando no poste? Não fazer nenhuma cobrança ao poder instituído? Que bem ou mal, esse poder é constituído através do voto! Eu achava que a não obrigatoriedade do voto acabaria com os currais eleitorais. Mas aí, surge o sujeito que vai comprar a participação do eleitor na eleição. Eu me confesso em dúvida. Mas é um bom debate.

BD – Hoje configura-se uma “guerra” entre as duas principais emissoras de televisão para eleger seus candidatos. O que o senhor acha disso?

CA – Obviamente existe uma disputa comercial em torno da comunicação, que atinge a política. Hoje (terça-feira)estive no Globo, sabatinado durante 2 horas, com uma superestrutura por trás do jornal, e as perguntas feitas pelos jornalistas de lá, foram totalmente diferentes das de vocês. O debate girou em torno das minhas idéias sobre determinados assuntos, não sobre minhas propostas. Acredito em financiamento público de campanha e em comunicação pública. Óbvio que nessa disputa fico numa situação de tensão. O jornal O Globo possui uma visão conservadora sobre o meu plano de governo, que me deixa preocupado com o que vai sair amanhã (quarta-feira). (risos)

BD – E sobre a controvérsia dos “caveirões”?

CA – O jornal O Globo publicou uma matéria na sexta-feira (06/09) dizendo que eu prometo o que não posso cumprir. Não é verdade! Eu realmente não posso dizer que o caveirão não pode entrar na favela. O que eu quero é ter voz ativa contra essa política genocida do Governo do estado.

BD – No seu programa de governo, você quer regularizar a situação dos camelôs. Criando novos espaços. Como pretende fazer isso?

CA – ninguém é camelô porque quer. Quero realizar um diálogo e um levantamento, porque, muitas vezes, eles são mão-de-obra explorada por um grupo de mafiosos de produtos roubados / falsificados. Não é beneficiar com a legalidade, qualquer um. Quero saber quem é quem. Mas também não acho legal não ter calçada para andar, interferindo no direito de ir e vir de todos.

BD – Percebe-se cada vez mais a presença de indivíduos ligados a grupos criminosos dentro de partidos políticos. É possível pensar que os partidos se aproximam desses elementos numa falsa proposta de levar o poder público aonde ele não chega?

CA – Desde que o poder público se instituiu no Brasil colônia, com a formação das Câmaras dos Homens Bons, quem eram esses homens bons? O latifundiário, escravocrata, dono de gado e de gente. Na Ditadura Militar, o poder estava baseado no crime, no crime oficial, na tortura e na repressão. O clientelismo é uma forma antiga do processo político. Só que hoje o quadro é muito pior, pois está ligado a corrupção de várias formas, inclusive a institucional. Por isso, por mais que o Jorge Babu esteja ligado à facções criminosas, para o partido dele, o PT, ele representa, pelo menos, de 15 a 20 mil votos para os quadros do partido. A fronteira entre a ética e o banditismo, é extremamente tênue.

BD – Uma mensagem final?

CA – Achei muito boa a coincidência do dia de hoje: ser entrevistado por uma grande organização de comunicação, e por vocês, que representam um conjunto de iniciativas, que fazem um contraponto aos poderosos. Boa sorte. Parabéns pelo trabalho.

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